sábado, 27 de agosto de 2011

Onírico


Quando acordei, levei um susto. Eu estava de bruços e tive um pesadelo. Daqueles bem soturnos que nos fazem transpirar suor e receio de que aquilo seja real.
No instante, entre o fatal e a ilusão (aquele em que você tenta entender se o vivido foi verdade ou não), eu a vi ao meu lado. Tão plácida em teu sono, um sorriso leve marcando teu rosto. Devia ser um sonho bom.
Mas, ao meu remexer na cama, na entrelinha de quem reclama que o outro não acordara, ela abre os olhos, como quem abre as janelas em um dia ensolarado:

Que foi? ela me pergunta

Pesadelo, dos terríveis!

Com o que sonhara?

Noites em fogo, um beijo, tudo de novo!

E eu dormia de bruços!

Que estranho! ela diz. Nunca te vi ter pesadelos de bruços!

Pois é, nem eu!

Me abrace e voltemos a dormir, meu bem!

Não consigo! Estou afim de sair daqui e comer sem faca, não pentear os cabelos, vestir qualquer roupa e largar um foda-se pra tudo o que você disser!

Mas você não me ama? indaga a minha amada

Amo; e é por isso mesmo que eu quero ir embora!

Você lembra do livro Édipo Rei? subitamente ela me lança

Lembro, porquê?

Não, nada. É que me veio à cabeça o fado de Édipo, os enigmas decifrados da esfinge e tudo que o acarretou por culpa das atitudes de seu pai, o rei de Tebas.

Pobre Édipo, furou seus próprios olhos ao descobrir o que tinha feito. Maldito destino. Eu lembro sim!

Pois é, maldito destino!

Leve um casaco, pois está frio para lá das portas!

É, acho que vou levar mesmo. Adeus então meu amor!

Adeus!

Caminho em direção à porta. Abro-a e um clarão me põe de volta na cama, naquele mesmo instante; entre o fatal e a ilusão:

O que foi? ela me pergunta

Pesadelo. Terrível. E eu dormia de bruços!

Que estranho, você nunca teve pesadelos de bruços...