domingo, 30 de outubro de 2011

O Mar Pela Janela


Já te vi, uma miríade de vezes. Mas por que então agora?

Te sorri e você fingiu. Abrira mão de um pensamento corrente, para tentar se explicar, saber de onde vinham aqueles olhos. Se de uma festa onde acontecera de tudo, se de uma noite mal dormida, se de um dia de pura solidão ou se do nada.
Escolhera um levantar de sobrancelhas, nos moldes de: E aí, vai ficar assim ou vai me dizer o que seja. Você está estranho hoje, não me cumprimentara!

Mas eu não sei o que me dera desta vez!

Nesse vaivém de olhares, como onda quebrando na pedra - engraçado, é a onda que quebra? - aqueles que quando se encontram, se desviam, uma hora me afoguei, não te achei, na multidão que se colecionava, na noite progressivamente menos fria.
E como numa chegada à superfície, de um longo mergulho, arquejante me joguei, às braçadas, no mar dos corpos dançantes.
Te encontrei, procurando meus olhos nos outros tantos. Me aproximei, anulado por teu sorriso, mudo pelo bradar do significado.

Tormenta.

Sem uma só palavra, aspiramos coléricos ares de uma vontade e fizemos tempestade. Na insensatez abluída pelos nossos beijos, pelo reconhecimento, por nossas mãos, de nossos ressaltos. Pelo mar revolto por trás das pálpebras, pela enxurrada da libido. Ais de uma ignomínia sufocado por um querer surgido. Inopinada ilha vulcânica que antes não se via.

Calmaria.

No paradoxo da morosidade que se levou com a fugacidade que se teve, me perco e me vejo, náufrago, perdido. E o cheiro do mar, dissoluto, remete a infância, juventude e mais tudo aquilo que o resoluto ocaso criou e desaguou!

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