quarta-feira, 11 de julho de 2012

Barro, Costela e Pecado

Das histórias, eu só lembro do final.

[Porta se abre]

 Eu digo para ela:
- O problema sempre foi o início. As idéias embaralhadas na mente, prontas para escoarem, desaguarem o rio da melancolia na imensidão branca. O mar das letras por onde navegam tantas teses, hipóteses e antíteses; dúvidas. Certezas são tesouros latentes.
- Soubera da notícia de que García Marquez está sofrendo de demência e não mais escreverá? Nossos grandes escritores estão se esvaindo como água - tragam-me o mar desse horizonte - e os novos apenas sofrem a influência e com a fluência reproduzem, mas com qualidade inferior. Pois tudo já fora criado? As referências vão ficando apagadas e amarelas como velhos livros. E o nosso futuro vai parecendo cada vez mais com um papel em branco.
Mas ela nem quis me ouvir e fez logo do nosso quarto alcova para os olhos da noite, querendo, apenas, saber do rumo dos nossos dedos que beijam, umedecendo as vontades que só se acabam pondo fim ao mundo. E isso é demais para mim. Teu corpo é, cada quark, um feito da loucura, chama que queima a alma mais branda, nuvem carregada que não sai do céu e fica alí, se aprontando em miríades de formas que contorno com as mãos. Tua língua é viva estrela que aponta o meu nome. Te tocar é não querer me perder no espaço de cada pedaço e saber todos de cor - coração? E o sabor é de sina; o azedume do suor das nossas rotinas, temperado com o doce da volúpia. É castigo levado aos meus dentes preguiçosamente. Divido tanto o meu sorriso nesse instante que o tempo pára. Quem sabe é luz o que me orienta?
E ela se levanta da cama, se veste, caminha em direção à porta e me diz:
- Está aí a tua referência. Tchau!

[Porta se fecha]

O demente aqui sou eu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nosso doce brucutu!

Anônimo disse...

gosto do q vc escreve.