quinta-feira, 26 de julho de 2012

Fora

Idiossincrática é a saudade. Parece casca de pão no céu da boca.

Um olhar fixo - sabe qual? - aquele em que você não consegue perder a atenção em seu instante, mesmo querendo. Quando se está em profundo pensamento, olhando para o nada. É como se os olhos fossem donos de si mesmos - até onde sei, isso não tem nome. Engraçado, todo mundo tem e ninguém deu nome - Esse era o meu estado, fitando, pela janela do avião, quando a comissária de bordo me perguntou qualquer coisa sobre uma barra de cereais.
Eu pensava sobre tanto naquele momento: sobre os jovens e os seus temores de seguirem os caminhos de seus pais e nisso, envoltos em um "círculo mágico", renovado compulsivamente, onde, amalgamados, em catarses coletivas ou não, são hedonistas práticos, eclesiásticos, doutrinados, do pó ao pó - nunca me dei bem com entorpecente que me obriga a me curvar perante o mesmo para consumi-lo. Parece fender alguma coisa além do próprio nariz.
Pensei também nos mal amados e suas línguas amargas; nas opiniões cegas dos amigos ao dizerem o que acham ser melhor para mim; nos próprios amigos; no linguajar coloquial do passageiro ao lado que viajava pela primeira vez e não conseguia parar de falar de tão nervoso; nos discos do Roberto Carlos e do Tim Maia que meu pai tanto escuta, contíguo as suas melancolias; na cozinha da minha mãe; no cheiro da caixa de remédios da minha casa que já me deixava melhor, de imediato, quando me sentia doente; nas pessoas que vivem as vidas dos outros, pois as suas próprias não são interessantes o suficiente; nos dias que passam depressa; nas minhas coisas e amores que ficaram para trás; no amor que temos do medo - para dançar um tango... - no quanto eu tentei mergulhar para fora da ilha e acabei por ferir o meu rosto na areia - a face desfigurada de quem por lá vive.
Me senti epicurista no sabor dessas coisas e aquilo tudo me tomava por todo. Foi o empirismo em sua sublimação. E como me encontrei alheio - fleuma - lá em cima: certezas renovadas, adrenalina intravenosa, o passo novo do pé cansado.
É, meu poeta! Que em tua terra a acrimônia seja das bebidas etílicas, que o álacre desperte os meus dentes. Que tudo isso que se desdobra, seja como o teu nome na pedra, como o teu nome em minha pele. Seja para alguém uma curva na linearidade da vida. Que seja endêmica a minha vontade. E que eu sinta. Pelos menos enquanto eu estiver por aqui.
Um sorriso de soslaio - sabe qual?

“Pelos caminhos que ando...”

2 comentários:

Mademoiselle dans les nuages disse...

... só não sabemos quando!

bonito, bonito!

Victor Coelho disse...

Muito obrigado, Camila!