sábado, 8 de setembro de 2012

Pedra Angular




De porto e mel germinado, quando infante todavia eras, sequer criados do barro erámos nós. Já nos guardava do alto, dividindo os ventos e divisando os astros quando avistaste a primeira estrangeira nave.

Nossos selvagens gritos ouviste, impassível; assistiu dentre nós os mais bravos a reconquistar seu espaço, se reerguendo quando pelos intrusos derribados. Ressurgiam entranhados em luzidio adubo. E era então a dureza do osso estampada no mais tenro holocausto da carne. Ressurgência árida de estranhado canibalismo.

Loiros como anjos e ambiciosos como o Diabo, como homens somente conseguem, arrotaram trovões e ergueram muralhas, fortes a te emular. Ora, bastaria um guspir de Netuno para que caíssem, castelos de areia que são, Morena rocha de Sol tingida, altar primitivo de nossos pais em sacrifícios entregues aos mais torpes Deuses.

Desenhar - te com letras pudesse e gastaria o poeta todos os dicionários, bíblias e Alexandrias. Certa vez sorvendo a baia, buscamos estreitar os braços, como se num abraço da gente coubesse. Mas não é possível, Colosso, monumento calcário a lembrar nossa infinitesimal pequeneza de homens, solitude infinita de ilhéus.


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 Mil linhas mais ousasse eu traçar e inda assim não poderia toda tua sina cruenta conter, megalito Atlântico, doce e tosco obelisco sem pontas. Cozido em pardacenta olaria, se não profundo por sua geografia, sê em sua poética, qual minas de sal e coral selando a saga tua.

 Menir esculpido do sangue da terra e as ondas lançadas num jorro de gozo. Ali brotada a semlhança da natureza criadora, com rigidez de monolito e solenidade de tumba. És Plácido porque invencível, precioso porque invendável,pedra bruta, minério, pirita.

És Monstro marinho a repousar no leito onde deitado é velado por seus vales irmãos. Ainda que nada ou ninguém te possa partir, vejo nos veios congelados de tua mais perene base refletidas minha face e minha gente, cintilando sorrisos sinceros como quem paga em silêncio a acolhida e o afeto de um ente querido.