sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cachorro morto



  Seu Inquieto senta na cadeira de plástico, puxa um cigarro de trás da orelha e começa a escrever no seu velho e imundo caderninho: 

 - Hoje não falarei de amores que sinto ou invento, amores de qualquer tipo. Vejamos... (Pensando)

  Talvez da fé que inunda meus irmãos, que os cega e a mim me reserva certa um cantinho quente e sujo no inferno da rotina? Não, melhor talvez do sistema podre de lucro e egoísmo que esmaga os sonhos e engana os pobres, fazendo crer que tudo que juntem hoje através de suor e sangue os fará melhores no amanhã tardio ainda que infalível? 

  Faz sinal ao rapaz que lhe traz a cerveja mais gelada do freezer, suco sagrado que instiga a crítica e afaga as sinapses. Toma do copo, bebe. 

 - Aaahh! Pois que seja mesmo de samba e amor, de como vai longe o tempo em que mereciam a nossa atenção. Que sirva as novas gerações o alerta de que nós os jovens de outrora é que sabíamos ritmar, ter cadência e a carência que é hoje esse mundo apressado e mesquinho das ruas cheias de gente vazia e de um povo que vive máquina, bicho estranho q é o homem. É isso! Hoje falarei da sociedade das imagens, tacanhas gravuras que passivas não percebem o que passa porque pré ocupados com o próprio preconceito de já não mais se entender criadores, não mais serem semelhantes mas massa só, tudo igual, pareado com o que - mas nesse momento eis que passa em desfile a morena. 

  As coxas grossas, o seio farto, e um sorriso espelhado no autor que dá a ele a certeza de que hoje não é dia de nada daquilo. Descanse, caneta! Sossegue, aflição. Que falta faz mais um dia? Que diferença mais letras?  

  A morena vai linda e a cevada gelada. Todo o resto hoje pode esperar.  

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