domingo, 15 de dezembro de 2013

Dos


Dos desnudos - Oskar Kokoschka

A ela, como se fosse aurora

Certo dia ela chegou em casa batendo as portas, queixando-se das conversas de ponto de ônibus. E só eu sei como ela odeia conversas de ponto de ônibus. É que sempre fica a tensão de que as mesmas podem ser bruscamente interrompidas, a qualquer momento, quando o ônibus chega. E as melhores partes invariavelmente ficam para a próxima, perdidas no tempo até um possível outro encontro. Por muitas vezes ficou sem saber do final das histórias contadas:
- Porra! Como eu odeio conversas de ponto de ônibus. Fiquei sem saber como o fulano (não lembro qual foi o nome que ela disse) se livrou de suas crises de ansiedade.
- Mas que merda, meu bem! Logo as crises de ansiedade que você tanto combate? Tenho um pronome de tratamento digno para o acaso: Filho da puta! - Exclamei.
- É, ele realmente é um belo filho da puta - disse ela com aquele bendito sorriso que só eu sabia por em seu rosto.
- Me abrace! - Pedido dela mais que outorgado por mim. Ratificado em nome de anjos caídos na noite aquecida por seus vícios. Reconheceria de olhos vendados aquele abraço. Não só por suas formas sinuosas e seu olor, mas essencialmente, pelo coração que batia tão forte quando de encontro ao meu que parecia esmurrar-me o peito como quem avisa o que existe alí.
É, ela era desse jeito. Quando a vi pela primeira vez, completamente embriagada numa mesa de bar, discutindo ferrenhamente sobre possíveis interpretações do que disseram seus heróis; eu, livre de qualquer preconceito analítico, à luz daquele ébrio olhar, senti minh'alma alforriada em seu brado mais ressoante, ecoando por cada quark do meu corpo num proselitismo mais que persuasivo. Desde então era ela, deus ex machina; a solução inesperada. O porquê enfim da minha história. Sine qua non da minha existência.
- Te amo! - ela me dizia. Dizia não, proclamava.
- Pfff! Amor? O amor está fazendo postdoc para entender isso aqui. - era o que eu respondia. E como sei que gostava disso...
E todos os dias eram assim, apesar dos soluços. Um susto bobo, um copo d'água. O caos era mais um caminho.
Entre( )tanto, como um sonho ela se foi, deixando aquele gosto amargo na boca junto a uma ereção matinal.

(...)

- Opa! Mas espere aí! Como assim ela se foi? O que aconteceu?
- Meu ônibus chegou. Fica pra próxima o fim desta...


http://eumechamoantonio.tumblr.com/

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Pílula da Felicidade (ou ''Quando aprender a não julgar, aí então serei perfeito")







Pegue a sua verdade e remoa. Mastigue, engula e se entupa de verdade. 
Rumine.Regurgite.Vomite sua verdade. 
E passe adiante. 

Pegue então a verdade que te chegue. Repita cuidadosa e pacientemente 
todo o processo:
Mastigue 
Engula 
Se entupa. 
Rumine.
Regurgite.



Vomite sua verdade (ao próximo)

Até que sejamos todos nus de verdade.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Geografia da inocência








Espírito Santo é um lugar rico, com praias ao sul e ao norte, com montanhas ao sul e outras ao norte, com reservas de petróleo e vasto litoral ensolarado. Suas praias ao norte, geralmente mais barrentas, escondem a diversidade cultural e musical dos novos velhos tempos, à casaca mexe com o congo, enquanto se espera a moqueca, a puxada do mastro segue a ladeira.

Particularidades em cena dão vistas ao novo toque de glamour e aparência rock n roll, com a boutique aberta, suas colunas erguidas sobre Liverpool, com escala em Seattle e CBGB; sambando em cima de um esqui feito do pandeiro tupiniquim, esta é a cara e o som das vísceras capixaba. Naquela noite eu vi uma menina bonita, ela se transformou, ela não conseguiu se segurar, ela pagou pau para o subproduto deste lugar.

Sangrou e derramou sangue, perdeu a conduta ativa, viveu por você e não semeou a verdade, qual verdade, Espírito Santo? É... Eu sei amigo. Somos adultos. Ela tem o nome de uma flor, como tal, chegara ao tempo de murchar e colocar um coração de tecido no lugar.

sábado, 30 de novembro de 2013

Cãibra moral

Na intimidade, meu preto by Casuarina on Grooveshark






  Ao olhar o outro busco o reflexo do que eu de fato sou quero ser. Fechar os olhos 
ao que não me parece belo só me faz enxergar melhor a escuridão dentro em mim.
Silente, entanto, ouvisse o teu sorriso, e poderia em paz também sorrir calado.


  Goze, mas goze de mim  comigo... não, porra. Goze nada. Que goze eu, e que você se foda. Gozar o outro parece o mais correto, pra quem tanto já gozado foi. Porque o meu erro é deslize; o seu, incoerência. A minha vontade é desejo, a sua, subversão. Porque nada somos. Nada. Apenas um amontoado de egos querendo o mais valer - se. 
(Leia -se: mais valia). 



  Esse inferno que habito é cercado por toda sorte de enganos. Ninguém me enxerga como de fato sou, ai de mim! Talvez porque passem muito tempo a mirar - se no espelho. E ali o que veem? Cabeça. Tronco. Membros. Nada além de carne e vaidade, veem somente homens e veem apenas mulheres. Crianças tolas e cheias de birras. Falem mal mais! Falem de mim! Mas sobretudo me enxerguem. Me olhem de canto de olho, e vejam o sorriso plasmado e amarelo embriagado de tanta farra. No canto dos lábios, as rugas rijas de tanto forçar a alegria e a beleza de ser um eterno paspalho. De errar mais e mais. Desejar mais e mais. Até cair em exaustão. 
(Quanto riso! Quanta alegria)


  Referências batidas de porta em porta como testemunhas de um mundo que nunca deu certo. Que jamais dará. Nossos pais, outrora heróis, hoje são a imagem do ridículo. Nossos heróis, hoje nossos irmãos e irmãs, amanhã já de nada nos valem. O novo sempre vem, de novo e de novo. Um circo ciclo vicioso de palavras de ordem malditas e escritas e de uma dinâmica sempre maciçamente  vertical - não importa de onde ela venha. Tudo é sempre mais do mesmo. Lamento informar que nada há de mudar. A não ser pelos heróis, que ontem figuravam entre nossos algozes.


  É hoje o dia da alegria e dos chavões mais usados, da roupa mais curta e da liberdade que mais nos prende.  Aquela boca que tanto beijei é a  mesma que hoje me cospe. A vingança é um prato requintado servido pelas cantinas e bares do mundo novo, esgarçado folhetim que é a vida do homem na terra. Temperada num leve fio de ironia e enfeitada com folhas verdes de ideologias torpes de falsa libertação. É preciso derrubar o velho. É difícil crer que haja mais crueza que aquela já vista na guerra do cotidiano, mas de fato sempre há. Basta saber doer, saber bater, e sadismo encontra masoquismo. Eros consolado em Thanatos. Temo por nossos filhos, como faria um Cronos zelando por Réia. 

Embaixo de meu travesseiro guardo pesada artilharia, no lugar onde antes repousava minha consciência. Pois quem tem cu, tem medo.


sábado, 16 de novembro de 2013

De 1927 até o fim.

                                                    
                                                      " Fervor, tremor e outros souvenires"



O jeito solto não combina mais com ele, aquela ânsia de sempre colocar a escova perto da pasta soava como um TOC.  Quando estavam longe era foda, era o mesmo pavor que sentia em momentos de insegurança em um lugar estranho e barulhento. Por via das dúvidas, sempre colocará o celular em estado de alerta permanente, pois sabia que com o enviar de mensagens sua dor era amenizada, suas células respiravam; era como um analgésico potente, algo como morfina, ou aquela dose que deixa a boca dormente, com lábios caídos e insensíveis, pronto pra ser obturado.

A culpa que sentia era tamanha, que o homer (hombre) não conseguia mais grudar o ânus quieto em uma cadeira, a mesa de bar era como um câncer maligno que separava os seus pezinhos grudadinhos com de sua amada.

Como classe dominante, detentora dos meios de produção, esfinge da produção econômica, rica em proteína. Em seu (in)verso encontra-se o proletariado, pastoso, serviente. Culpado por escola e religião. Maltratado e submisso, no entanto, imensamente criativo e multicultural. 
No conluio desta tendência, pega carona a incoerência coexistente de viver e sobreviver, vivendo o sol, convivendo por essas chuvas, transmutando, perdurando, irritando, destruindo e construindo tudo de novo.
 

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Baladinha








''Minha vingança será um sorriso carimbado na face e o éter a me escorrer das mãos''



  - Jura que já houve quem experimentasse tudo isso e ainda assim abrisse mão? Digo, se hoje estás aqui é porque alguém desistiu... ou você se cansou... afinal... – é quando batem a porta para interromper o idílio que é o infinito preguiçoso de uma tarde quente  de segunda.
   
  Era o vizinho, como sempre, incomodado. Curioso. Pouca coisas  há capaz de incomodar um ser humano que um seu semelhante em estado de graça. Poucas coisas evocam mais a desgraça, é dizer. Um carro do ano. Uma mulata passista em mão alheia ou um gemido alto  o bastante para furar a privacidade das paredes  cotidianas.

  Ele, o vizinho, senhor honesto e trabalhador. Por vezes recebeu troco errado e com ele ficou. Quem pode culpa – ló? O homem que tem por predicados ser tão homem quanto todos os demais, nem mais nem menos nobre. Aquele que não fede e não cheira, não fuma nem nada. Senhor das virtudes normais do Mundo normal da natureza humana. Classe: Medíocre. Aura: Mediana.

  Ficaram os dois em silêncio e recolhidos  sob os lençóis úmidos de seu paraíso particular. Assim mesmo, como em um romance barato de banca entre jovens adultos que ainda não puderam romper a casca do adolescer. Tudo  silêncio e pieguice,  não fosse o arfar pesado das suas respirações ansiosas. O vizinho batendo, batendo e bufando, até cansar. Não dava trégua em suas reclamações pequenas e egoístas. “O barulho vai muito alto, vizinho!” se recebiam amigos para uma conversa simples. “Preciso dormir, ora essa!” se havia música para animar o encontro. ”Vocês fumam demais! Que cheiros  são esses?” e por aí em diante, ou seja, não se pode mais jantar. Não se pode ter amigos, ser feliz  é  crime agora?
Foi embora e não ouviu o riso abafado entre brincadeiras e travesseiros. Amor assim, de cama, mesa e banho. Ah! E álcool, claro. Que ninguém é de ferro. E somos tão jovens...

  A noite chega apontando planetas e estrelas ou o que mais que brilhe na seda escura do céu.  Estão cansados de nada, felizes por tudo e convictos: Ele é só dele. Ela não é de ninguém.

  -  Pede você, você sabe que eu não gosto de falar ao telefone.
  -  Pede o de sempre.
  -  Vem logo pra cá. Eu bem poderia te usar agora. Sabe, desde que eu me apaixonei por... 
  -  Cala essa boca, cara. Sente meu amor?  
  -  Que sorte a minha te conhecer! Meu bebê!

  Mais voltas, corcoveios. Cavalo e entidade, peão e rainha. Buddys. Um dia, porém, os enjoos. O suor incomoda, a emoção que acabou, o “liga você, olha a frescura”.  Por fim as retas paralelas, os “olhos nos olhos” e o “passar bem”. O anacrônico sentimento da traição que não houve.

  Se encontrarão ainda nas noites, nos bares. Dois estranhos caminhando na turma de rostos conhecidos. Nada houve, parece. Não foi nada, já passou. Ah! Essa juventude transviada! Os encontros furtivos e os amantes passageiros. E no fim, como diz o outro: “Um enfarto. Ou pior,  o psiquiatra”


(I do. I do )




domingo, 10 de novembro de 2013

A Morte de Votric Sunen - Capítulo 1

Falling by Nick Cave & Warren Ellis on Grooveshark

Votric Sunen sempre odiara esta época do ano. A cidade toda se aprontava mais uma vez para o evento mais hipócrita e consumista por ele já presenciado. Todos adornando seus egos com guirlandas e pisca-piscas. Fazendo das noites um clarão eterno, queimando retinas e apavorando os insones como Votric.

Numa rara ocasião de necessidade fisiológica - problema que vem anexo a idade - ele percebe o relógio de pulso que tanto procurava esquecido no chão do banheiro entre as roupas sujas. Uma metáfora epítome digna de sua existência: Por mais que tentasse esconder entre as grossas camadas de ilusão, aqui representadas por trapos, pele morta, ácaros e manchas de sudorese, os ponteiros empurram inexoravelmente o tempo sem sequer saber se é hora. Estava velho; macróbio de uma era em que ser idoso nem ao menos significa sabedoria.

E em meio a uma ducha, sem a qual jamais conseguiria sair daquele quarto de banho - cagar e tomar banho é um TOC insuperável e até lhe dava um certo orgulho - o telefone toca; e como que premonitoriamente sua espinha se gela com a percussão estridente do aparelho. Era o seu antigo chefe chamando-o para um último trabalho, que ele já recusou de prontidão. Votric Sunen foi um agente de investigação, aposentado por invalidez. Mas aquele não era um trabalho qualquer, sublinhava seu ex-chefe, era sim uma ligação do subversivo Nolen Danrami que anunciava que se seu velho rival não aparecesse até a hora marcada em tal local, explodiria bombas postas em lugares públicos matando milhões de pessoas. E que assim o velho investigador escolhesse como seria o seu presente de natal. O superintendente ao telefone disse a Votric ter investigado e não encontrado bomba alguma, mas não se podia levar como blefe o que Danrami dizia.

Danrami era um bon vivant, mais jovem que Sunen, fazia da vida um capricho e abalroava quem quer que estivesse em seu caminho. Porém encontrou tanto de si em Votric que acabou fazendo do astuto agente um espelho e decidiu passar o resto de sua vida tentando provar a Sunen que o homem é mero animal brincando de humanidade. Experiência maior disso foi o sequestro da esposa de Votric, Kasmen Lasvi, e consequentemente sua impetuosa morte: Ela foi mantida durante meses em cativeiro, até que um dia Danrami prendeu maços e maços de dinheiro no corpo de Lasvi nua com bombas acionáveis ao mais simples toque nas notas e a pôs no centro de uma praça em um bairro paupérrimo da cidade com uma placa pregada em seu peito com o seguinte escrito: Se tocar neste dinheiro, ela morre, reles animal! O resultado final disso foi um bairro inteiro em chamas.

Aquele telefonema inquietou Votric Sunen ainda mais que a água que entrou em seu ouvido no banho e não conseguiu tirar. Aceitou ir de encontro ao seu nêmesis, é claro. A vingança é o júbilo do sem propósito. Encontraria enfim o maior de seus carrascos, alguém que não deveria ser chamado de humano.
O endereço já estava num papel em seu bolso. Sua vida se tornou um clichê policial e ele se incomodava com isso. Mas aquela água no ouvido!

No caminho ao rendezvous percebeu que não era mais o mesmo intrépido e incansável investigador de antes, a velhice havia atacado até a sua memória, pois não lembrava onde era exatamente o endereço escrito no papel - tendo em vista que em seus áureos tempos não precisaria nem anotar -  que ele já usou pra tentar secar a cavidade auricular obstruída. Resolveu perguntar do local a um jovem transeunte onde a estampa de sua camisa dizia: "Feliz Na... Ops... Capital!". O rapaz fingiu não ter ouvidos e continuou seu rumo. Votric pensou naquele instante que a frialdade das pessoas já é tanta que as camisas deveriam ter estampas somente nas costas.

Depois de muitas voltas, enfim, ele chega ao local do encontro. Mas antes do toque na campainha, a preparação psicológica. Ele se vê arredio durante um tempo. E quando levou a cabeça até a mão, na altura do ombro, na tentativa de dar pancadas para tentar se livrar daquele incômodo entupimento, ouviu um zunido como se algo passasse ao seu lado muito rápido. Ele reconhecia aquele som como ninguém. E ao perceber a sua frente um orifício antes ausente naquela porta, concluiu: "Foi um tiro! E acertaria em minha cabeça se não fosse esta maldita água em meu ouvido."

(Continua...)

Capítulo 2? Aqui

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Congelar do malandro




                                                      - Todos os sinais levam ao mesmo lugar.


Homem de lata morre entre esgotos e vias em meio a sua poluição astral; como vivem pedindo sentenças e mandados impetrados dessa aflição, Homem de lata se restringe em seio esplendido da dor de um mundo oco, tal qual o seu coração.
Como se não bastasse, o mesmos passos são seguidos, e assim forma-se do outro lado soturno, mais uma legião destes, que esperam acesos raiar mais um dia, mesmo que seja pálido o dia; via-se raios como oferenda ao novo turno que se segue, feito um bastião.
Parte da mazela mora ao lado, conflitando entre a sala e o quarto, prazeres bobos e saias vil. Começo a entender a maturidade, ela passa por perto e despeja em você tudo o que foi construído.

Como prova do desgaste, arraste os períodos todos de novo, veja em seu nome uma menção do município, chamado: acaso de lata; neste, não acontece nada, não encerra-se nada, não perdura sorte, apenas se encontra as coisas, coisas, coisas, pessoas, coisas, coisas, pessoas que são coisas.

 

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Toda prosa



  A poesia está onde habita a vida. E muito, muito mais além. Sei que acima de tudo está aqui, e em tudo o que toque a bela, escura tinta do seu olhar. Em cada som mastigado por essas cavernas pequenas de tuas delicadas orelhas. 


   Também nas doces olheiras onde, as memórias encerradas, desenham a maquiagem delicada da viagem que não houve (mas para a qual te preparastes com esmero). Tuas sempre irresolutas decisões. Teu destino ainda por alcançar. Cada palavra vaga flutuando no espaço silencioso do caos que te abraça, e é mui doce o frescor de cada palavra inventada só pra te definir. Muito mais ainda, em toda a ternura que te cerca. 

          
   Mesmo na mais aguda dor, toda tua altivez, vinda como que do teu peito de fêmea apenas possível e para a qual não se soube ainda criar adjetivos, me alcança e emudece. De que valem afinal as palavras? Eis então que abrindo os olhos não mais te vejo. Como ausente estás e qual doente soluço, sem ar. Teu toque macio e gentil me alcança e eis que em meu peito, aliviado, o coração estanca. 

                                                                     *     *    *

   Vejo mais amor nas ruas, nas placas, nos carros. Mais alienígenas e alienados. Julgo estar em paz. Mas afinal, que homem pode em sã consciência ser juiz de si mesmo? Ouço da sala tua aura serena e antecipo em sorriso que estou nos domínios de teu sonho (Tão sereno teu semblante).

   Pois de tudo me impressiona que dentre tantos loucos e tantos santos, muitos bravos e algum, claro, covarde, foi a mim que escolhera. E a mim te cabe cantar, numa balada retumbante para que saibam todos os covardes, todos os bravos, os santos, e ora, claro, cada louco que a mim me tocas. E é minha tão somente a obrigação de reparti - la em sorrisos e beijos. Como se a cortasse c'os dentes e cuspisse a terra a semente donde hão de vir teus frutos. 

   Temo não ser capaz. Mas te olho, branca Penélope repousada a esperar por mim e então eu sei que tudo posso. Fortalecido me debruço sobre ti e abraço minha vocação. E quando caio em si, percebo: Estou mais eu do que nunca.



domingo, 8 de setembro de 2013

Guananira em berço esplêndido (ou Abre teu olho, Vitorinha)

   
http://www.magnomalta.com/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=1554:maguinho-o-boneco-infll-da-elei&catid=27:outras-notas&Itemid=45



    Sirenes ecoam entre os tubarões que singram velozes pela beira - mar. Distante em sua morada, altiva,  Nossa Senhora da Penha limita - se em ajeitar seu manto rosado de nuvens, enquanto espreita a tudo sem dar nenhum juízo. A santa divisa na praia as morenas pretas de areia que se orgulham de suas vergonhas - retas vastidões - as quais vão adornadas de azuis e brancos e tons e outros tons. 

   São mulatas e índias também, tapuias raízes esticadas nas loiras melenas cheirando a formol. Na orla sobram passistas, passantes, seguras de estarem todas cheias do Espírito Santo em sua forma roliça de pombinha.

Ouvi dizer até que Santo Antônio, de visita secreta a Anchieta, correu com o Diabo daqui, e assim deixou livres do Mal os nativos que o Mal ainda não conheciam. Meio assim um São Patrício a livrar a Irlanda das cobras que a Irlanda nunca tivera. Resultado dessa celeuma é que pedrinhas brutais espocaram, espalharramaram - se pelo chão agora então esborrando em ladeiras e ladrilhos transatlânticos. O tempo desde então parece parado aos selvagens que assim bem vivem sem se dar conta.


*        *       *


   Sei que há anos que nada de novo há. Mas que hoje é Domingo e nos é devido, como sempre, Ó, César, dar ao Senhor suas devidas prezas e preces. Parabéns a  minha Ilha de Mel. Parabéns aos barões do café, aos nossos número um. 

   Nossos solares médicos insulares. Nossos juízes de arma em punho e sorriso no bolso. Nossa terra de homens fortes e viris e mulheres direitas de olhos vermelhos (quando não roxos) e vestidos de noiva branquinhos - Deus nos livre do Pecado. Nossas mães com doçura de menina e jeito de matrona - mulher pra casar. Nossos rebeldes sem causa, ora! Tudo vai tão bem há 462 primaveras! Pra que mudar o time que está ganhando? Reclamam de barriga cheia!


   Parabéns a todos pela vitória nossa de todo dia. Onde sobra o romantismo e o futuro morreu mas esqueceu de deitar. 

domingo, 1 de setembro de 2013

Endereço



Reminiscências são tudo o que ela tem agora, dirigindo o seu carro, a cara amassada pela noite inquieta de sono, tentando ainda se acostumar com a luz da manhã, ao passo que as gotas da chuva percorrem o seu caminho gravitacional no para-brisa. Coisas que lhe vem à mente relacionadas ao seu pai que mesmo em toda a sua rispidez arrancava-lhe sorrisos. Lembrou de quando era ainda menina e admirava o pai a fazer suas coisas como se ele fosse um deus consertando o mundo.
Recordou com a maior vontade existente de sua mãe, que mesmo não tendo ido à escola alguma, parecia ser a pessoa mais inteligente do planeta. E como certa vez, bravamente, ela espantou um besouro que adentrou o quarto cor-de-rosa de sua filha (perdoem-me o sexismo). Besouro - mais especificamente o escaravelho - a existência mais irônica e poética já conhecida por ela: rolar bosta orientando-se pelas estrelas.
A notícia em forma de correspondência sobre sua aprovação na universidade federal tinha uma prerrogativa espacial em sua memória. Queria abri-la na frente da família, mas não se continha, experimentando pôr contra a luz para ver o que havia dentro do envelope. "Passei. Adeus, adolescência!".
A universidade de fato foi um divisor de águas. Por sua beleza as coisas pareciam fáceis por lá. Era elevada a categoria de arte pelos colegas (L.H.O.O.Q.). Teve um caso com a professora de Espanhol I (sempre encontrou poesia em tudo o que fosse dito nessa língua) e paixões como a pelos dois amigos, concomitantemente, sem que eles soubessem um do outro e quando questionada, jurou de pés juntos que não, mesmo sendo atéia.
Mas paz para ela nunca gozou de graça, procurava "sarna pra se coçar". A calmaria e a monotonia eram coisas de gente velha que já não esperavam nada além da morte. "Mas paz é isso, não? Algo que apanhamos do outro por intermédio de uma coisa chamada relação. Se quero paz, eu pego a tua. Puro fisiologismo¨, uma vez disse ela numa discussão calorosa em mesa de bar.
E então a formatura, emprego. As responsabilidades lhe caíam às toneladas. Não havia mais tempo. Precisava viver como todos os outros, presa nesse movimento pendular, buscando aliviar as dores do caminho com viagens e placebos tecnológicos.
Sempre esteve em conflito interno por querer não se contradizer. "Mas isso é impossível, meu amor. Teoria e prática são amantes raivosos.", enfatizava o maior de seus romances, o homem que não mais conhecia. Chorou feito criança esses dias ao lembrar dessa tão estranha criatura, enquanto assistia a belíssima apresentação do poema do obsessivo-compulsivo. Pensou em desviar de seu caminho para o trabalho e passar na casa dele. Ele ainda residia no mesmo endereço. Endereço para o qual estudou por anos mudar seus problemas. A mesma rua de sua aurora, uma rua abarrotada por lojas de noivas que por consequência de um bombardeio tradicionalista, fundamentalista, colonizador, idealizava se casar como uma princesa Disney. Lembrança que a levava às gargalhadas toda vez que recorria.
E num irascível desespero por ver seus sonhos corroídos pela mesma pasmaceira que tanto se opunha, acendeu um cigarro, tragando a fumaça e o passado para o peito. Tudo parecia tão absurdo nesse momento dentro daquele carro. Decidiu pegar uma outra direção que não a do presente.
Chovia lá fora e o futuro agora era o que tinha nos bolsos da calça. Mas ela sorriu.
E nunca mais se ouviu falar dela.

"Afinal, qual é o valor da vontade quando o espírito está faltando?"

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Reginaldinho, talk to me.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Assim Caminha A Humanidade?


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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Arquitetura libertária (Pão nosso)









Agradeço por mais um dia que insiste em nascer

Apesar da fome

Apesar da guerra
Apesar de você
Apesar da gente, que ri sem saber bem o porque
Que apesar dos pesares

A pesar em mim

Vivo. Logo, penso que existo. E logo vivo pensando que sou feliz.

Agradeço a ironia de um Deus que está em mim e saúda Adeus a tudo isto. Agradeço ao abraço e o carinho de quem me ama sem se dar e de quem me dá sem ter amor. De que vale a culpa, se não há responsáveis a quem se culpar? Vamos todos agradecer ao Grande arquiteto 

Da dor
Da miséria
Da saudade
Da lira
Do verbo
Da peste e da morte
Da uva e da mandioca

E dá mais um dia pra começar tudo de novo.
Muito obrigado, Senhor, pela pedra (de Sísifo).



*Fica  com   Deus
  

(*Pra você)



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Espetáculo em caos.








Estado de espírito condena e define os passos destes ávidos por decoração de mesa, banho e cadeira.
Hoje, espero que o santo esteja perto de você e das suas escolhas acertadas, sinceras e distintas envolvendo dinheiro.
Cada passo da sua perna, cada horizonte que viste, todos os limites desta ilha; seja seu.
Todo o nariz soberano, cada maneira de olhar o próximo, todos os mandados e todas as injúrias.
O caminho do lastro no trabalho, do conforto e felicidade; mesmo sendo um zero e só.
Esse modo de amar e casar; esse modo de conhecer a vida e viver.
Situacionistas, sociedade de espetáculo, 1968, nada, nada, nada. Continua...


Sendo Ser humano, eu digo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Let's go...





Os rastros representam espera. Os meios dividem. Os blocos  de concreto modificam a selva. Assim como a polícia é a face nua do sistema, sua boca é o anúncio amargo de um poema. Aqui, inacabada dor, escolhe seus eivados passos a seguir-te. Empresta-me esta força doce que sai do seu olhar, sem degolar o sorriso que sempre se abre ao te encontrar, é meu mal.

Ao passo, mais enfado que Bruno de luca, uma eterna combalida nostalgia erradica os motivos, e a razão se perde pelos poros fechados de sujeira vil, esculpida com barro, sem amor, sem amar.

domingo, 28 de julho de 2013

Forks and Knives


"Tire o seu sorriso do caminho...


- "Meu amor, tenho planos para nós. O que há de vir é nosso. Nada pode nos desviar. Quero contigo casa, filhos, prestações. Quero dividir os problemas, as dores, somar as curas em sorrisos. Te quero perene, meu monarca de fábulas infantis, nessa piada travestida de vida que insiste em nos chamar de posse." Foram exatemente estas as tuas palavras, lembras?

- Lembro. Mas não acredito mais nesse sonho médio que desde a Roma Antiga fundamenta essa história. O futuro vai sendo brinquedo do sistema vigente, mantenedor de antolhos direcionados a propriedade seja ela matéria, seja ela essência. E a capitalização do amor, leia-se casamento, via de regra afagada por interesses eclesiásticos, receita com todos os itens a desvalorização do mesmo num salutar de cofres alheios. Quer-se o bem, meu bem, se é que você me entende.

- Mas que mal há nisso, construir o estereótipo desse status quo, já que não há mais nada além da carne? A revolução é a própria contrarrevolução moldada para ludibriar a dúvida!

- "A tradição é a ilusão da permanência.", Woody Allen foi quem disse.

(...)

- Lembras também que no início do nosso relacionamento me dizias que contavas as vezes que precisarias fazer as unhas, escovar os dentes, abrir as janelas... quantos banhos tomarias, quantos filmes assistirias até poder me ver novamente? "Este é o último pentear de cabelos até o encontro", era a frase que persistia na frente do teu espelho!

- É, dias que pareciam anos para mim. Mas a distância era o que nos mantinha sãos.


- Eu sei que insistes em ver essa letra escarlate em minha testa toda vez que nos encontramos. O que fiz foi por pura insegurança, eu sei, e nada define melhor (ou pior) mea culpa que isto!

- "As nossas únicas verdades são as nossas dores". Isso é Alphonse de Lamartine ratificando a minha existência.

- Crias na anodinia da nossa narrativa, não é?

- Sim. Eu cria em ti.

- Nosso desamor já fez aniversário, viste?

- Vi.

- Foi tudo tão célere e silente que nem percebi o tempo passar!

- Para mim nada foi tão custoso e gritante quanto.

- Tens razão, vai ver foi isso, demorei, deveras, para entender. Não te mostrei a minha nova tatuagem!

- O que é?

- "Se não a realidade que me cospe esse agora
   Sê então o fantasma que me assombra as horas". O teu poema que me escreveste!

- És louco.

- Eu sei!

- Bem, já peguei tudo, vou embora.

- Calma! Mas e o conjunto de talheres de prata que ganhamos de presente em nosso casamento?

- Enfie-os no cu. Adeus.


... que eu quero passar com a minha dor."



segunda-feira, 1 de julho de 2013

Parada pela rua.





 - Vem você e diz que essas coisas não mudaram, diz que essas pessoas são reféns dos mesmos futuros; incerto, paulatino e privado. Chegará o homem novo, o status quo da verdade, não, não, não.. este já morreu, este está ao lado de fora da forma desses passos. Tire o fio de cabelo do olho, deste olho, veja. Pessoas pularam as mesmas cercas, até aqui. Apenas se é jovem por aparência, deixada a embriaguez, longe de vingar perfeição. Pálido coração, tomado por mesmos instintos, graves silhuetas, nas tórridas paradas no tempo. Outra cura, pra fazer dócil, pra negar-se. Público, notório, veja acesa ameaça.
Entre mesas e cadeiras fortes, outra celeuma do universo. Desvio aceito.
- Boa sorte.
- Bom Foda-se.

A vida é arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Vinicius de Morais

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Inanição e exaltações





Por todos os lados as hordas avançam. Sede de justiça; fome de pão; azia de acalanto e os olhos baços de esperança ou outra droga qualquer. Muita vez enchendo – se de razão, tomam moinhos de vento qual Bastilhas fossem. Há mesmo Esaús e Jacós a degladiar por uma mesma razão, brigando por dizer diferente o mesmo pesar que há tanto entala suas gargantas. E chovem pedras, num céu cinzento de mármore a recobrir o Sol da liberdade e seus raios fúgidos.



                                             *  *  *

Uma guerra civil traz, ironicamente, a imediata morte da civilidade. E somos todos órfãos de pais que punam, buscamos inconsciente razão para que nos parem. Por que tudo nos é dado a mão beijada? Merecemos um não, merecemos barreiras. Proibido proibir... Ahmm tá... Liberdade pra se estar preso a velhas formas do pensar, romântica glamourização de ter saudade de tudo que eu não vi ou vivi. Queremos mais que o direito de ir e vir  - buscamos o direito a que nos levem no colo. E muita vez não vemos, por mirar só o passado, que ainda somos o país do futuro. Ainda filhos de uma revolução líquida e difusora de readymades e autocorreções. Tudo tão acético! Errar ? Jamais! Para aprender, basta ser ler o coleguinha, escolher seu modelo e a carapuça vestir. Não, você não é o Cara. Não, você não é melhor que ninguém. E não, você não é um floquinho de neve especial, senão mais um peão na massa, a quem não se dá o direito de pensar (ou não), de ser, de não se encaixar. Escolha sua bandeira, desfralde e vista.

                                                                  

 *  *  *

“Apatia” é uma palavra quase tão bonita quanto “melancolia”. Mas bem menos confortável. Sentimentos são rotulados como tudo o mais, e assim é só buscar na rua a prateleira mais próxima e bradar aos quatro cantos: “Estou livre! Sinto!”. Nunca antes na história desse planeta fomos tão dependentes do outro, em especial de sua aprovação. Esse texto mesmo, jamais deveria sair da gaveta. São minhas palavras, minhas! Meu pensar e meu sentir. Deveria engolir essas palavras e digeri – las como achasse conveniente, e você também. E certamente não seria a primeira pessoa.

  
   *  *  *
                                           

Talvez eu seja pré – história. Talvez só precise de um regaço quente ou de orientação, alguém além de eu mesmo para ouvir chiar meu peito rouco. Talvez você me seja suficiente. Sem talvez, eu sei, nunca serei autossuficiente. Um mundo tão cheio de dúvidas que resta apenas uma certeza: Devemos ser infalíveis, ainda que no erro. E que errando, aprendamos a fazer diferente, e diferença. Aprender a caminhar ao tropeçar nos próprios sonhos, ideais que nos guiam pela noite escura. Só pra na sequência levantar e caminhar mais firme e convicto. Como nossos pais. 


terça-feira, 25 de junho de 2013

Guardo Um Sorriso Pro Fim?

Eu sou raça humana. Não sei de orgulho, tão pouco amor.

É, hoje é difícil. Tantas meias palavras da vida nessa narrativa de leitura horizontal muitas vezes confundida com romances russos (inspira, expira). A vida imita a arte nesta tragédia que é se ver sempre pelos próprios olhos. Das torres de marfim se canta com tanta empáfia o hino da bandeira embebida de humor amargo (prisão kafkiana de epíteto existência). Xinga-se a calça alheia de causas curtas. Veta-se com os punhos direção enquanto é, impetuosamente, empurrado por costas quentes. É covarde o suficiente para ouvir. O grito de socorro é sempre o mesmo.
O quadro psicológico é fundamentado por Rorschach no papel sujo de merda. Se quiser cura dos desejos infames, a vacina é em prece. Enquanto deus está morto e o homem não sabe tomar conta do legado, o secularismo é sequer posto em pauta. Filosofia chega a lugar algum.
Ao passo que a história não conta, o sorriso é desamor.

O futuro é uma criança a brincar num parque onde o presente é rei.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Sem som





Escrever pra você é desviar-me do futuro. Escrever pra você é dizer não. Escrever pra você é fechar-se em clichê. É cuspir em pratos limpos. É viver o lúdico romance como um fóssil hostil. É pestanejar ao ejacular meu clima árido sob re duras penas, suja... sim, é uma pena.
É tentar ser valente caçando culpa, ao fazer troça do irreverente menor pistoleiro. É assistir um filme em preto e branco, sem som, do diretor dramático espanhol cult. É situar-me em instantes crônicos de uma lenda, sem sinal, sem vida. É protagonizar o velho, excêntrico e moribundo, sem paladar para novidades. É sugar o que resta da sua vida comigo, em minha varanda opaca, com nenhuma luz. É viver nesta prosa sem fim.

domingo, 2 de junho de 2013

Da incompetência de versejar.

Vocês sabem, né?
O menino aqui é péssimo em versejar.
Palavras bonitas? Vish! Sem chances! Mas hoje eu resolvi tentar um "poeminha". Bem básico, bem amador, mas inquieto.

Meus comparsas das rodadas de copos, da nostalgia do grupinho e da camaradagem é que são experts , por isso, este post é uma homenagem a nós, a vocês e aos agregados. Na nua e fria "realidade da guerra" que é o calor do meu ser, o velho rabugento do "oito ou oitenta" que vocês sempre gostaram - ? incógnita seguida por um silêncio fúnebre instala-se no recinto - da companhia.


/(in)-competência/

verseja, sem capacidade

vá prolixo, guie-se pela vontade
sem regras, agora, só
não ligue, ora, expurga aí ó!
ameniza, aplaca, suaviza, 
chora, enxuga, tranquiliza.
sonhar, desistir, falar, falar, falar.
levantar.
catarse, análise, alegria
etapa, crítica, alergia.
deus do tempo, dai-me luz
para que a incompetência não faça jus
que o tempo passe, que o poeta não mate o literário
que vossa literatura não seja fajuta, de cárcere a presidiário
só você lê, só você entende
mas ainda assim, solte, não prende!

poesia pros de talento,
mas no vácuo da incerteza, da inconsciência, eu não agüento.

o fardo? pesado 
motivo pelo qual o sopro do meu vento leva algo prolongado

desnecessário à alma
afaga e acalma

simplifica, incompetência é não amar,
portanto, deixe o vento levar..



quarta-feira, 29 de maio de 2013

Metamorfose Contemporânea

O mundo envelhece, muda e tudo o que foi deixado para trás supura na dor latente da evolução. Verteria o tempo se soubesse do seu fim? O amor é anacrônico; vomitado pelos homens de fé em seus anseios lascivos. A ciência, hoje o saber influente, esgarça as teorias de outrora para saber da prerrogativa celular de quem compra. A cultura é reproduzida in vitro. A diversão é paradoxalmente tediosa, perdida nos históricos hedonistas. O escapismo é tão alienado quanto a rotina. Só o sangue arranca aplausos no coliseu digital. Os caminhões, os carros... a humanidade anda em lento círculo autodestrutivo, de almas escamoteadas pela revolução tecnológica (Behemoth?). Já podemos mentir por entre as pernas. Os heróis tornam-se estéreis pelos transgênicos da Monsanto. As carpideiras ganham milhões. O calendário oficial agora é o do ano fiscal. E do nada vamos sendo reis, contemplando o cinzento céu do domínio, parindo proles do bem dotado capital.

Eu vi deus tropeçar numa imensa sala escura onde tudo o que amaldiçoava se tornava maior que ele próprio.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

(Pra desopiar) Em Terra? Nunca, Jamais!







Alguns Segredos, algumas ideias ou pensamentos, por mais bonitos que sejam, não merecem jamais serem revelados. Então o poeta os organiza e os mete todos numa caixa - bem mais simples do que se pensar pudesse - para ali mofarem puros e belos. Que jamais venham a tona. Que não sejam divididos.



Assim não fosse é bem capaz que deles restasse pouco mais que cacos. Isso a ninguém agradaria e, pior, se desvirtuaria seu real propósito. Repara então no que não é bem dito, Paulo, apóstolo do amor e da dúvida. Que fique a palavra não catada, mal forjada como escória fosse, ali num canto a toar uma balada surdo - muda vinda de remota caixinha de música, ó João.




Qual mensagem para ninguém numa náufraga  garrafa em banco de areia qualquer. E que, egolatria e egoísmo em sua mais fina flor, o poeta encerre em si tudo o quanto colheu de mais absurdo, sonoro e furioso do espetáculo que é aquela vida que jamais viverá.




sábado, 11 de maio de 2013

Agente equilibrado.




Peixoto foi curtir o carnaval carioca, gostou das pessoas, animou-se com a cidade, perdeu-se nas ruas fantasiado de bate-bola, vibrou com os concertos voadores, palavras de incentivo, cerveja espirrada e sorrisos saltitantes. Parou na esquina, realizou- se urinando; curvou-se, na espreita, por uma bailarina comediante, com um algodão doce em suas mãos. Desconfiou das falácias de um homem sóbrio, pediu a mão para levantar-se da rasteira que recebera, não foi nada, disse ele. Perto disto, vem uma onda, ele não impede que a mesma o leve para o caminho do ameno e sensato equilíbrio, sem estas calçadas mijadas, sem esse cheiro maroto solto, sem as conquistas vazias, sem desperdício necessário.
O mesmo homem que se mostrou valente, se torna o peso morto de outros tempos, perto da estrada infértil deve seguir. Descontrole é infame, inimigo da resignação de outrora.
É perto dela, na fila, na chuva, em uma casa ou naquele quarto úmido, morada anárquica da velhice solitária, encontro-me com as toalhas sujas que secam essas lágrimas jovens e caídas.
Longe do carnaval, Peixoto volta pra vitória, honesto, febril e cult. Bem-vindo, parasita da desordem, tomemos outro drinque para celebrar.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Paulicéia



É que Narcisa acha feio o que não é Espelho



  O beijo frio da grande metrópole me arrepia a pele. Me contraio até estar pequeno, contrito, compacto.
Submissa vadia, contorcido ante o peso de tudo que me é estrangeiro. Sou vadia mas gozo, entre a Paulista e a Virgem da Penha.


 Penha = Pedra

 Vadia = Rei

 Afinal, que rei? Tão diminuto e aqui fora tudo oprime. A arte do que é santo, a força somada de um povo ambicioso e curvado diante da cruz de quem almeja o ceu. Povo bruto que de fato nem percebe a alma que tem  - doces bárbaros. Um homem de preto passa displicente a despeito dos discos voadores. Ali pra frente , só o pó. Saudades de estar de preto.

 Luzes viajando na velocidade de uma esporrada e nas ruas, línguas ardem sem que se possam compreender. Poetinha. Poe. É... tinha. Fraco.

 Magnífico espetáculo, e eu, merda, não capto tudo. Nem jamais captarei. Indolente, então, ilhéu e preguiçoso, deixo isso aos que me seguirem.

Olhando o "jardim" do Patriarca foi que percebi.


Pessoas já disseram tudo o que havia de ser dito. O que dizer além de tudo isso? 


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Espetáculo (Show) da vida



  Esse mundo anda cheio de "gente", vejam só. Gente a rodo. Alcoviteiros aos montes. Gente que caga regras, aos baldes, mas que na alcova cava a cova de sua cuspida moralidade - descansada em requintado edredom - solapada na bela lápide que é a própria mediocridade.

  E você? é um homem ou um pássaro? Onde está a sua liberdade, aquela que estampava tua pele cálida, flanando ao sabor dos quatro ventos? Que tipo de gente é essa que passa os dias no delicado processo de maquiar a própria putrefação, bem vos digo:

  Somos zumbis. Amando romanticamente a já morta nobreza; louvando o deus morto (e minúsculo) do coletivo de pecadores (a que chamarei aqui "povo"); tentando conter os avanços do grande movimento retilíneo uniformemente variado que é a vida humana na Terra. Mas acima de tudo (e isso é o mais importante)  "vivendo" como analfabetos e "pensando" fora das aspas. Solipsando - se em todo e qualquer parentese.

Histeria e simulacro, os males desse mundo são.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Samba Criollo

 
 
 
 
 

A cerveja com outro gosto ainda é cerveja. Você sem mim ainda sou eu um pouquinho.
 
Mariposas dançam na sala de estar aquele esbaforido minueto: polegar, indicador, médio, anelar. Indicador, Médio, Anelar, indicador. Enquanto isso, crianças derramadas choram no leito quente do asfalto.

Estão atônitas ante o espetáculo do absurdo que é o carrossel apagado de suas tão curtas e amáveis (ainda que não muito fascinantes) alheias vidas. Nuvens passam -  brinquemos, Nuvem! 

Deixemos de lado a angústia, a dor e a certeza da dúvida (benefício? pffff). Por essa noite, pelo menos. A mariposa de sonho vem afinal repousar vadia aqui em meu peito.

 
 
"Aqui, ninguém vai pro céu"

terça-feira, 16 de abril de 2013

Amor goxtoso





Primeiro pense no ser humano, disse ela, depois projete esse ser humano em um território destrutivo, posteriormente monte seu roteiro de destruição, depois disso aguarde pela parte que nos toca, pense no coletivo, disse ela, como meio de vida, ache seus tostões e use-os para sua destruição e a destruição alheia, perverso! disse ela, depois vem a dúvida sobre alma e tendências masoquistas de religião. Da cozinha, com um cigarro em bocadura, vem ela.

                                                                ….......................................


Lata, estarei aqui, sempre por aqui, dentro de você, perdido desde a última tampa, desde o cheiro fino no metal barato, serei seu intestino e coração, sujando e sendo sujo, patriarca desse prazer de ficar a mercê do razoável, com todo esse amor lindo, com todo amor do nosso mundinho fechado, como? Com todo amor, minha linda, com muito, muitíssimo amor.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A novela do Malandro - Cap. 3


                      " ... Só não solte este pum enlatado em meu nariz, pois se sim, nosso amor acabará"


No intestino desta ilha, fredo sentia o vazio que o assolava, vazio este que era comum em sua geração, não por causa do caos ou “caôs”, não por causa do mal que a idade tráz, não por conta do egoísmo hereditário catedrático, mas sim pela dor do que veria com olhos de quase cristão, quase alguém, quase membro, quase irmão, eis que surge confusão, surge falta do que e de quem ser.
Mais uma falta esconde seus versos torpes em rodas de bar, não parece mais daqueles homens inúteis, sem alma... ele está pronto para o vazio.

Aquela personalidade variável, pertencentes aos mais espertos, não encontra a dor em qualquer tempo, essa verdade ainda esta por vir. Fredo, em contra partida, percebe que o caminho a ser tomado sempre se transformará em absolutamente nada. Perto desta celeuma, todavia, distante, na av. Fornecedor, Fredo encontra Amena, com ela ele se sente mais seguro, acariciado sob o seio maternal, imerso em universo sem efeito colateral, digno pra caralho e puro.

Continua...

segunda-feira, 1 de abril de 2013

A novela do malandro - Cap. 2





Em 1910, com sua libido em alta, o contraditório menino não se sentia tao jovem assim, ao contrário do que a ereção perene predizia. Fredo era unilateralmente convicto de suas decisões, funções e desvios.
Passado anos, o mesmo dizia ser filho de humildes fazendeiros, moradores de Iraruana, cidade pacata, vizinha de Sta barbara, aquela bela cidade, que os moradores faziam compras em mercados precários, com bosta de cavalo por toda parte. O perto de lá, era a distancia daqui. Em Sta. Barbara, Fredo morou anos com sua avó, mulher sorrateira nas perguntas certeiras, a complexidade das palavras de dona Tildes, deixará fredo mais esperto e atento com a literatura brejeira que estava por vir.
Passado algum tempo, Fredo não sossega em Sta barbara, se muda da cidade, ele quer cair, ele quer ser, ele quer se levantar.

Quando desembarca na cidade com diminutivo carinhoso, Fredo resolve realizar um sonho do pai, formar-se na universidade. O pai, austero e tecnicista, resolveu deixar seus sonhos de lado, preferiu ser o provedor padrão, alienado e católico. Fredo, com a alcunha dos ébrios e esquiadores de plantão, forma-se com louvor... e em pouco tempo, tornasse um dos maiores alcoólatras desta ilha.

Continua...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Novela do malandro - cap. 1



                                            'Igualdade moderninha é melhor que a realidade'


Godofredo era um jovem típico, alvissareiro intelectual, habitue do circo cult boêmio, de uma capital que segue sina de ser apelidada com diminutivo carinhoso. Conhecedor assíduo da palavra e dos martírios: amor, capitão do desastre, navegante embarcado em sonhos distantes, desde maremoto a tsunamis. Fredo, diz: “ Veja só, não se sabe o motivo, apenas sabes por quem eu vivo, por você, marmita: morna ou fria”.
- Vejo o cinzeiro cheio cinzas. como vai com a birita? Acabou? Ou resta algo em seu fim?
Depois dos devaneios, segue a estória...

Godofredo, tem seu sistema límbico abastecido por um forte fornecedor de vulvas russas, que servem como peça de provimento emocional e sentimental acendendo o modo on de existência. Sendo este, seu único fornecedor. Era um medo.
Andava pelo tempo praticando esportes de raro costume pra sua época, sempre equilibrando seu cigarro, quando sim e quando não, um copo de cerveja. Orientava-se pelas sombra das luzes dos postes (com mérito, pois pagava pela taxa de iluminação pública sem atrasos) pela madrugada calorenta, mas pra ele, sempre fria e esfumaçada.
Certo dia, conheceu Amena, uma jovem mulher, não tão jovem assim, não tão amena assim. Entretanto, Amena emanava a paz necessária para a sobrevivência na terra, contudo, a paz esbarrava em aleatórios problemas com o passado, com o presente e com o futuro...