sexta-feira, 15 de março de 2013

Sono

 Life is not forever(yone)

O som do despertador, para mim, é sempre uma alusão a gemidos infernais. Odeio acordar cedo. O relógio grita a hora mais imprópria; a do atraso. Tudo é tão pouco perto do não visto. E será que verei, em meio as sovas do tempo que abre o olho roxo do destino, a vala comum dos nossos corpos mortais? Afinal do que somos feitos senão de sonhos finitos?
No caminho para o trabalho um homem brada dentro do transporte público que vê a multidão, mas se sente só. Ele ainda acrescenta que somos espécies sinantrópicas da nossa própria solidão.
O mesmo homem ao fitar o meu desgosto - estresse usual - me fuzila com seu dedo indicador e diz:
 - Enquanto você finge que me ouve, os cofres estão cheios de contradições, a educação não salva mais a alma do inquieto, os rombos fiscais são vistos inimigos maiores do desenvolvimento. Mas só te vejo aí, sentado. Julgo-te oco por vontade. Tu és mentecapto por comprazer. Um dia encontrarás a redenção da tua vida num tropeço de uma mesa de bar ou num beijo qualquer. Aí então, meu desalmado rapaz, tu estarás aqui em meu lugar.
E ele continua:
- Creias que eu seria o primeiro a defender a tua essência se eu pudesse vê-la. Foste plasmado por um deus carnavalesco e egoísta. Tu viste o pão folheado a ouro na apoteose? Tu vês as tuas mãos sujas ao pô-las na consciência enquanto esperas por súcubo - aqui uma livre interpretação - na noite, para te (t/d)omar a vontade? É, o amor deixou de salvar a vida, Neruda não faz mais sentido para você.
Conclui então o homem dando tapas em sua própria face:
- Acorda! É difícil. Vai ser foda. Mas vai ser! Pois eu sou também você, por quem os sinos dobram!
De mesmo modo me pego esbofeteando a cara, enquanto os sinos dobram, dobram... o despertador toca, toca... e eu não consigo acordar.

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