domingo, 15 de dezembro de 2013

Dos


Dos desnudos - Oskar Kokoschka

A ela, como se fosse aurora

Certo dia ela chegou em casa batendo as portas, queixando-se das conversas de ponto de ônibus. E só eu sei como ela odeia conversas de ponto de ônibus. É que sempre fica a tensão de que as mesmas podem ser bruscamente interrompidas, a qualquer momento, quando o ônibus chega. E as melhores partes invariavelmente ficam para a próxima, perdidas no tempo até um possível outro encontro. Por muitas vezes ficou sem saber do final das histórias contadas:
- Porra! Como eu odeio conversas de ponto de ônibus. Fiquei sem saber como o fulano (não lembro qual foi o nome que ela disse) se livrou de suas crises de ansiedade.
- Mas que merda, meu bem! Logo as crises de ansiedade que você tanto combate? Tenho um pronome de tratamento digno para o acaso: Filho da puta! - Exclamei.
- É, ele realmente é um belo filho da puta - disse ela com aquele bendito sorriso que só eu sabia por em seu rosto.
- Me abrace! - Pedido dela mais que outorgado por mim. Ratificado em nome de anjos caídos na noite aquecida por seus vícios. Reconheceria de olhos vendados aquele abraço. Não só por suas formas sinuosas e seu olor, mas essencialmente, pelo coração que batia tão forte quando de encontro ao meu que parecia esmurrar-me o peito como quem avisa o que existe alí.
É, ela era desse jeito. Quando a vi pela primeira vez, completamente embriagada numa mesa de bar, discutindo ferrenhamente sobre possíveis interpretações do que disseram seus heróis; eu, livre de qualquer preconceito analítico, à luz daquele ébrio olhar, senti minh'alma alforriada em seu brado mais ressoante, ecoando por cada quark do meu corpo num proselitismo mais que persuasivo. Desde então era ela, deus ex machina; a solução inesperada. O porquê enfim da minha história. Sine qua non da minha existência.
- Te amo! - ela me dizia. Dizia não, proclamava.
- Pfff! Amor? O amor está fazendo postdoc para entender isso aqui. - era o que eu respondia. E como sei que gostava disso...
E todos os dias eram assim, apesar dos soluços. Um susto bobo, um copo d'água. O caos era mais um caminho.
Entre( )tanto, como um sonho ela se foi, deixando aquele gosto amargo na boca junto a uma ereção matinal.

(...)

- Opa! Mas espere aí! Como assim ela se foi? O que aconteceu?
- Meu ônibus chegou. Fica pra próxima o fim desta...


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quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Pílula da Felicidade (ou ''Quando aprender a não julgar, aí então serei perfeito")







Pegue a sua verdade e remoa. Mastigue, engula e se entupa de verdade. 
Rumine.Regurgite.Vomite sua verdade. 
E passe adiante. 

Pegue então a verdade que te chegue. Repita cuidadosa e pacientemente 
todo o processo:
Mastigue 
Engula 
Se entupa. 
Rumine.
Regurgite.



Vomite sua verdade (ao próximo)

Até que sejamos todos nus de verdade.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Geografia da inocência








Espírito Santo é um lugar rico, com praias ao sul e ao norte, com montanhas ao sul e outras ao norte, com reservas de petróleo e vasto litoral ensolarado. Suas praias ao norte, geralmente mais barrentas, escondem a diversidade cultural e musical dos novos velhos tempos, à casaca mexe com o congo, enquanto se espera a moqueca, a puxada do mastro segue a ladeira.

Particularidades em cena dão vistas ao novo toque de glamour e aparência rock n roll, com a boutique aberta, suas colunas erguidas sobre Liverpool, com escala em Seattle e CBGB; sambando em cima de um esqui feito do pandeiro tupiniquim, esta é a cara e o som das vísceras capixaba. Naquela noite eu vi uma menina bonita, ela se transformou, ela não conseguiu se segurar, ela pagou pau para o subproduto deste lugar.

Sangrou e derramou sangue, perdeu a conduta ativa, viveu por você e não semeou a verdade, qual verdade, Espírito Santo? É... Eu sei amigo. Somos adultos. Ela tem o nome de uma flor, como tal, chegara ao tempo de murchar e colocar um coração de tecido no lugar.